Duas sobre Morangos

Carolina, de três anos, acompanha a segunda gestação de sua mãe. Certa vez, depois de almoçar bastante e de comer sobremesa, ela pergunta:

– Mamãe, tem um bebê na sua barriga, né?

–  Tem, filha, tem um bebê, que é o seu irmãozinho.

Neste momento ela levanta a blusa e mostra o barrigão:

– Ah, na sua barriga tem bebê e na minha tem morangos!!!

Voltando do parque da Água Branca, passo por uma mãe e uma filha a caminho da feira de produtos orgânicos…

– Não, eu não quero comprar frutas! -diz a menina que deve ter uns dois anos e meio.

– Mas, filha, você gosta de frutas – insiste a mãe.

– Eu não gosto de frutas! – reafirma a menina.

– Gosta, filha, você gosta de morango e…

– Mas morango não é fruta!

– Não? Morango é o quê?

E com “ar de água na boca”, ela finaliza:

– Ah, morango é delícia!!!

Celular

Ana adora brincar de falar no celular com a sua terapeuta.

No primeiro dia em que propôs a brincadeira, ela demonstrou estar muito bem entrosada com as novas formas de comunicação.

– Então, Ana, o que você quer fazer hoje? Vamos continuar montando o quebra-cabeça?

– Não, vamos brincar de casinha? A gente é amiga e tem celular. Aí você me liga.

– Tá bom, então vou te ligar, atende aí: “Trrrriiim, trrrriiim”!

– Que é isso?

– Ué, o telefone tocando…

– Mas o telefone não toca assim.

– Ah, é mesmo, eu me esqueci… é que na época em que eu brincava de falar no telefone eles tocavam assim (risos). Agora vou fazer direito, vamos la! “Tãnãnãnãnã, tãnãnãnãnã”!

– Ah não, o meu celular não toca assim, não.

– Mas você nem tem celular. E o meu toca assim, oras… Bom, ok, me liga você, que eu atendo, então.

– Tá! Atende aí (começa a cantar, animadíssima): “I’m a barbie girl, in a barbie wooorld!”

Cinco fases

Assim como a Rita, o João, de quase 7 anos, também se interessa bastante pelos fenômenos da natureza.

Conversando com a sua avó, na volta da escola para casa, ele ouviu:

– Nossa, como a Lua está linda!

E logo concluiu:

– É a Lua cheia, né, vovó?

– Sim, é a Lua cheia. A Lua tem quatro fases e…

– Eu sei! – interrompeu animado e começou a contar nos dedos – Tem a Lua cheia, que é uma bola, a Lua crescente, que é um risquinho para um lado, a Lua minguante, que é um risquinho para o outro lado, a Lua nova, que não parece e… peraí, não são quatro, não, são cinco!

– Não, João, são quatro – explicou sua avó – você já disse o nome de todas, querido.

Mas ele não se conformou e disse com bastante seriedade:

– São cinco, sim, vó, você está esquecendo da Lua de mel!

Diversas do Theo 5

Pocoyo!
(essa eu tinha esquecido de publicar na época)

Theo com amiguinha brincando em fevereiro:

Lina: Maíra, a gente pode um desenho na tivilisão?
Theo: Deixa, mãe, desenho do Pocoyo!

Eu: Só um pouquinho?
Theo: Só um pouquinho! Eba! Esse desenho é muito sensívu, Lina!


Calendário

Em um final de semana de maio, Theo na sala e eu no quarto:

– Ô mããããe!
– Oi filho.
– Hoje é semana passada?
– Como assim?
(vai até o quarto)
– Hoje, hoje é semana passada?
– Não, Theo. Hoje é hoje. Semana passada foi a semana que passou.
– Mas o que é o hoje?
– Ãh?
– O que é o hoje?
– Hoje é o que tá acontecendo agora, hoje.
– Mas o que é hoje?
– Já falei.. é…
(me interrompendo) – O que é hoje?
E, em tempo, lembro de uma resposta eficiente:
– Hoje é sábado.
– Ah, tá bom!
E volta para a sala satisfeito.

Temperos especiais

Em uma tarde de domingo, brincando de “comidas gigantes”:

– Eu sou o ovo, o papai é a frigideira e a mamãe é o sal.
– OK – respondem os pais.
– Eu vou ficr aqui na frigideira (escalando o pai). Vem, sal, coloca aqui a sua temperência pra comida ficar gostosa!


Cabeças

Ainda com sua cabeça quente em uma noite de Maio:


– Tá muito calor, mãe, minha cabeça tá toda assoada.

E no dia seguinte, com o irmão mais novo:

– Por que o Ian tá com a testa molhada?
– É porque ele mamou e ficou com a cabeça “assoada” que nem você ontem, né?
– Não, acho que não tá assoada, não, acho que isso aí é uma cicatriz de banho.

Construção conjugada

Brincando com uma bancada de madeira, como uma marcenaria de brinquedos:

– Olha, eu vou fazer uma construição!
– Legal, filho.
– Faz você também.
– Ok, vou fazer minha construção.
(passa um tempo)
– Você já construçou? Eu também. Pronto, tá tudo construçado!

Embaralho estomacal

Brincando de massinha e de médico, com um boneco que tem moldes de órgãos do corpo humano:

– Eu já fiz o coração, agora esse aqui é o estôGamo, tá?

A vida e o planeta

Theo, com quatro anos e um mês, em uma conversa no carro passando por uma praça cheia de cachorros:

– Theo, sabia que o papai já teve uma cadela dessa que se chamava Cocada? – conta sua mãe depois de ver um Husky Siberiano.

– É? Mas onde ela está?

– Ela já morreu – explica o pai.

– Por que os cachorros morrem?

– Porque são animais, como as pessoas, nascem, vivem, morrem, é a vida… – filosofa um pouco a mãe.

– Tudo bem… (pausa reflexiva)… Mas, mãe, como é que começou o planeta Terra?