Histórias de Clarice…

Transcrevo aqui dois registros encantadores retirados do caderno de Clarice Lispector…
“1954 – no aeroporto quando íamos de férias para o Rio, ele vê uma menina e me diz furtivo, afobado:
– Olha, uma menina bonita!
Ficou agitadíssimo e disse:
– Mamãe, quando eu vejo uma moça eu até sinto o cheiro do meu paninho! (o pedaço de pano com que desde que nasceu, ele dorme. Quando o pano era lavado ele reclamava a ausência de cheiro. Uma vez disse: mamãe, o paninho tem cheiro de mamãe!)”
“Pedro.
– A palavra “palavra” é ex-possível!
– Ex-possível?
– É! Gosto mais de dizes ex-possível do que impossível! A palavra “palavra” é ex-possível porque significa palavra.”
LISPECTOR, Clarice. Outros Escritos (Organização de Teresa Montero e Lícia Manzo). Rio de Janeiro: Rocco, 2005.

 

Descoberta na banheira

Rio de Janeiro, aquele calor das músicas da Fernanda Abreu… E o Hugo, com 2 anos e pouco pediu para ficar mais tempo brincando na banheira. 
– Ok – responde qua mãe – mas eu vou lá na sala falar com a tia Cris e já volto.
Da sala, a tia do Hugo ouvia as risadas e o barulho de água sendo espalhada para todos os lados. 
Até que: silêncio… E um grito, com tom de desespero:
– Mamãe, mamãe, mamãe!

A mãe volta correndo e encontra o filho com as pernas levantadas e a mão no traseiro, dizendo:
– Mamãe, mamãe! Costura aqui! Tem um buraco no meu bumbum!

Japonês!

Ricardo, um nissei de uns 35 anos, passeava por uma bela praia da Bahia, quando encontrou um garotinho que parou embasbacado na sua frente.
Ricardo, então, percebeu que o garoto estava muito interessado nos seus olhos. E perguntou:
– O que foi? Nunca viu um japonês?
E o menino lhe deu um sorriso sincero e respondeu com admiração:
– Só o Jaspion!!!